É tudo sobre a caminhada

Bruno Taurinho
2 min readSep 13, 2017

Andar na rua é dar chance para o acaso e para o constrangimento

Comecei a ir a pé para o trabalho na segunda-feira. Os motivos principais foram quatro: bati na traseira de um carro numa semana, uma pessoa bateu no meu carro (parado) na semana seguinte, depois perdi minha carteira de motorista (80 reais a segunda via!) e são apenas 2,5 km.

E nos 25 minutos em que caminho, duas vezes por dia, já presenciei situações muito curiosas em apenas três dias dessa empreitada.

A primeira delas envolve uma moça com muito medo de barata, coitada.

Ela caminhava perto de uma obra, quando foi surpreendida por esse inseto. Deu um salto para a esquerda que, para quem via de longe, parecia um tackle de futebol americano, acertando em cheio um cara que passava ao lado e que, coitado, ficou sem entender nada. É a catsaridafobia constrangendo a sociedade desde a urbanização massiva do final do século XIX.

A segunda me envolve — além de um isqueiro e mais constrangimento, porque não.

Caminhava tranquilo, ouvindo a trilha sonora de Hamilton com o fone de ouvido no talo, porque não (da da da dat da, dat da da da da ya da!). Até que sinto um puxão na minha mochila. Viro assuntado, achando que tinha passado por alguém que eu conhecia sem perceber, acontece. Mas nunca tinha visto a senhora que me puxou para dizer que eu tinha deixado cair alguma coisa. Comecei a apalpar meus bolsos e mochila ao mesmo tempo em que perguntava o que era e pedia desculpas pela música alta (da da dat dat da ya da!). E era um isqueiro. Não tinha um isqueiro, eu falava com ela ao mesmo tempo em que um senhor que vinha atrás dizia que o isqueiro era dele. A senhora ficou tão sem graça, coitada. Pediu desculpas. Todos rimos um sorriso bem amarelo, como se fossemos todos fumantes precisando de um isqueiro, e seguimos nossas vidas.

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Bruno Taurinho

jornalismo e conteúdo | política, direitos humanos, vexilologia, história, música, quadrinhos etc.